“Eu completava sete anos no dia que meu pai me levou a um parque, bem em frente de nossa casa, quando ouvi bem alto que um pai afetuoso oferecia uma música para a sua filha que ria com os olhos, desejando que ela fosse feliz a vida toda. Jamais me esqueci, embora nem sempre feliz. Pelo contrário, essa lembrança me aparece mais quando tenho tempo para ficar triste. É uma lembrança intensa. Vejo minha mãe na janela da casa, nos olhando enternecida e cúmplice. Contei esse caso para uma amiga e ela me confidenciou já ter ido a um parque e oferecido uma música para si mesma como se fosse vinda de um admirador secreto e muito, muito apaixonado. Pétalas de rosas entre os livros, papéis de bala, sei de gente que guarda caixinhas de lembranças de cada namorado que teve na vida. Não me organizei tanto assim, mas guardo na memória. Meu pai não me disse nada, nem me lembro do seu abraço. Estamos de mãos dadas e ele só me diz, agora vamos. É assim. Cada um tem um jeito próprio de amar , de declarar o seu amor e de organizar as lembranças de bons momentos, apagando os maus. Não há mágoa que resista ao tempo. É assim agora, esse espetáculo é uma declaração de amor. Declaram amor pela dança os bailarinos. Declaram amor pelos bailarinos toda a equipe em torno, cada um à sua maneira e todos nós oferecemos a alguém o nosso trabalho e o nosso carinho… e esse alguém sabe quem.

Baby Mesquita – Novembro de 2001

O espetáculo explora as diferentes formas de amor e de encontro com o outro. O resultado é uma encenação perpassada por um romantismo bem-humorado. O repertório de músicas brasileiras bem conhecidas do público, traz em seus versos tons de declaração, como nos programas de antigamente que colocavam os enamorados em contato. Nos intervalos das canções, jingles comerciais e o trecho de uma radionovela reforçam a idéia de um grande programa de rádio.

O nome escolhido para esse trabalho da Cia. vem exatamente dessa ambiência de parques, quermesses e do radio antigo, em que canções de amor eram oferecidas pelos enamorados para alguém que sabe quem.

Ao longo de 1h05, os bailarinos descrevem diversas formas de encontro, de abraço e de amor. Sem guardar rigores na ordem cronológica da execução, o início do espetáculo se prende às músicas mais antigas e o clima é mais inocente; e aos poucos vai se tornando mais sensual, passional e até agressivo. Paradoxalmente, as falas de amor permanecem as mesmas, ganhando o tom da modernidade apenas por que são interpretadas por cantores atuais.

A abordagem teatral, a fusão de vários ritmos, num diálogo com técnicas de caracterização teatral e elementos circenses, revitalizam e exploram a dança de salão ao limite improvável, o que vem sendo conseguido pela Mimulus Cia de Dança com renovado sucesso.

No ano de 2002, E Esse Alguém Sabe Quem, recebeu os seguintes prêmios: Melhor Coreógrafo; Melhor Cenário; Melhor Espetáculo.