Ato criador, motivado e motivador de encontros. O abraço como pressuposto. Sem ele, nada se iniciaria. O contato da pele como ponto de partida de toda e qualquer travessia criativa. Assim chegamos até aqui. Com o privilégio de estarmos a dois. Ousando transfigurar seus modos de composição, mas ainda estruturalmente apoiados nos diálogos possíveis de dois corpos em contato. De repente, não mais. Desafiados naquilo que sempre nos identificou. O interdito mirado em nossa essência. Da proximidade inspiradora e reflexo de diálogos na materialidade dos corpos, à distância imposta como única maneira possível. Se nos fazemos uno a partir de dois, estamos agora, partidos.

Em par(t)es nos desafia a encurtar espaços, comprimi-los poética e artesanalmente. Um convite ao desafio de outros modos de estarmos juntos. A subversão da distância e daquilo que nos separa, em ferramenta de ligação. No prolongamento de nossos corpos em franca tentativa de alcançar o outro, de restabelecermos a troca. Para que na construção de outros laços, possamos manter nossos vínculos. As crises lançam luz àquilo que realmente nos é fundamental. No nosso caso, o toque. Um detalhe tantas vezes despercebido talvez em função da sua familiaridade. Agora ele nos é estranho. Motivo de desejo e reticência. Instigador de saudades. Calculado a todo momento por mãos que outrora o faziam de maneira desatenta. Do contato pele a pele ao uso de intermediários possíveis, as mãos seguem como protagonistas nos mantendo aos pares. E ganhando dessa forma uma força expressiva ainda maior.

Partidos, separados, desafiados pelos sucessivos confinamentos, impedidos de proximidade. Toda a sorte de constrangimentos que nos serve pra certificarmos que antes de tudo está a vontade de estar junto e de se fazer completo pela partilha com o outro. Os caminhos, serão descobertos na medida em que os passos vão sendo dados. Pois a vida, tanto quanto o baile, é feita de desafios e desejos de descoberta. Lancemo-nos, juntos, na busca pelo restabelecimento de nossos pares. Transformando hiatos em pontes e fazendo com que nossos corpos distanciados revelem tão somente nossos pontos de tangência.

Rodrigo de Castro