Mimulus Escola e Cia de Dança

Âmago

“Um olhar crítico sobre a limitação das telas e abre fissuras sobre as diferentes formas de cegueira da contemporaneidade”. – Joelma Xavier

Release

Para Saramago, conhecer é ver o outro lado. Ver o que está por trás de algo. “Dar-lhes a volta toda.” A Mimulus Cia de Dança aceita o desafio e propõe deixar-se conhecer. Convida o público a dar-lhe a volta. Arrisca-se, ao desvelar aquilo que estaria recôndito, o seu âmago. Enquadra para seu público seus bastidores, deixando fluido aquilo que distingue o que deve e o que não deve ser mostrado.

E se lançássemos luz sobre aquilo que antes escondíamos? Aceitando a sua existência e, mais do que isso, dando-lhe valor? Num mundo que urge pela convivência de múltiplos pontos de vista, um convite à apreciação de suas várias possibilidades. O reconhecimento de que o lugar que estamos condiciona aquilo que vemos. Que tal dar-nos a volta?!

Rodrigo de Castro – bailarino da Mimulus Cia de Dança


“O enquadramento é algo muito estranho porque o que está fora é quase mais importante do que o que está dentro. Costumamos olhar um enquadramento pelo que ele contém num quadro, numa foto ou num filme. Normalmente pensamos no que está no interior. Mas o verdadeiro ato de enquadrar consiste em excluir algo. Acho que o enquadramento se define muito mais pelo que não se mostra do que pelo que se mostra. Há uma escolha contínua quanto ao que será excluído.”

Win Wenders


“Nós vivemos dentro de uma possibilidade de ver que é nossa… que não vê nem de menos nem demais. Se o Romeu, da história, tivesse os olhos de um falcão, provavelmente não se apaixonaria por Julieta. Porque os olhos dele veriam uma pele que provavelmente não seria agradável de ver. Porque a acuidade visual do falcão, cujos olhos o Romeu teria, não mostraria a pele humana tal como nós a vemos.”

“Eu ia muito à ópera no São Carlos, no Teatro de Ópera de Lisboa. E ia sempre lá pro galinheiro, lá pra parte de cima. De onde via uma coroa, quer dizer, o camarote real começava embaixo e ia até lá em cima e fechava com uma coroa dourada enorme. Coroa essa, que vista do lado da plateia e do lado dos camarotes era uma coroa magnífica. Do lado onde nós estávamos, não era. Porque a coroa só estava feita entre as quartas partes; e era oca; e tinha teias de aranha; e tinha pó. Isso foi uma lição que eu nunca esqueci. Para conhecer as coisas, há que dar-lhes a volta. Dar-lhes a volta toda.”

José Saramago


Nesse tempo em que os acontecimentos históricos e a densidade amarga do cotidiano colocam todos de certa forma impotentes, a Mimulus Cia de Dança vem procurando “dar-lhes a volta” e buscar outros pontos de vista, diferentes formas de olhar, de compreender. Mostrar o que está “fora do enquadramento”. Enxergar o que está recôndito, o seu âmago.

Para isso, convidamos o espectador a “dar-nos a volta” ao assistir a nova criação da Mimulus Cia de Dança.

A trilha sonora também nos convida a ter duas (ou mais) formas de ver, de interpretar um mesmo tema. Totalmente brasileira, unindo antigos sucessos da música popular a novos expoentes do gênero, ela consegue como resultado uma linguagem universal e com a reconhecida marca que os espetáculos da Mimulus sempre apresentam.

Levando a uma criação onde o cenário não é o que aparenta ser a um primeiro olhar… onde o verdadeiro cenário é a própria Mimulus, o seu âmago.

Dois lados, duas visões… cena e bastidor… plateia e cena… dando toda a volta!

Críticas

O espetáculo abre fissuras nos modos de ver por meio de enquadramentos: sejam os enquadramentos das telas e do palco, sejam os enquadramentos das formas de se entender a dança contemporânea, já que a montagem da Cia Mimulus nos desafia a perceber compassos tradicionais e reinventados da dança de salão, em simultaneidade à construção de movimentos coreográficos que não se circunscrevem a essa modalidade de dança. A coreografia, portanto, apresenta uma linguagem que se elabora nos movimentos de duos dançados, nos bastidores da cena dançada e se expande às noções de condução mútua entre homens e mulheres e aos gestos elaborados em uma atmosfera de sentimentos, transitando entre o riso, a ironia, a solidão, o desejo, o amor e a dor, esboçados nos processos da dança contemporânea.

A forma como se realiza o jogo cênico da dança, nesse espetáculo, não se limita ao ato de movimentar [por movimentar], mas ao ato movimentar para compor um olhar sobre a vida contemporânea e sobre forma como o ser humano se esconde em seus espelhos projetados.

A partir desse jogo, o título do espetáculo, projetado no cenário, divide-se em novas possibilidades de palavras e de sentidos, abertos a novas imagens, a novas perspectivas que deslizam nos campos do desejo humano e nas impossibilidades dos enquadramentos sociais. O movimento dançado transita no amargor da solidão, na força rítmica do mar, nos delírios do amor e na atmosfera rarefeita do ar e do sonho e, assim, o espetáculo gira os olhares para o âmago de cada ser, para o lugar de dentro da alma.

A Mimulus Cia de Dança propõe, com o espetáculo Âmago, um olhar crítico sobre a limitação das telas e abre fissuras sobre as diferentes formas de cegueira da contemporaneidade. Âmago, portanto, explora a resistência do humano, em cenários, demasiadamente artificiais, do mundo enquadrado das imagens e das relações contemporâneas.

Joelma Xavier

Premiações

Com estreia em 2018, Âmago recebeu as seguintes premiações:

Ficha Técnica

Direção:
Jomar Mesquita

Coreografia:
Jomar Mesquita e Bailarinos
da Mimulus Cia de Dança

Bailarinos:
Juliana Macedo
Jomar Mesquita
Andrea Pinheiro
Rodrigo de Castro
Fabiana Dias
Guilherme Serpa
Maiara Victor
Murilo Borges

Cenografia:
Ed Andrade
Cristiano Cezarino

Confecção de Cenário:
Joaquim Pereira

Iluminação:
Junior da Mata
Jomar Mesquita

Figurino:
Baby Mesquita
Juliana Macedo
Ednara Botrel

Técnico de iluminação:
Junior da Mata

Fotografia:
Guto Muniz

Seleção e Edição Musical:
Jomar Mesquita

Consultor Internacional:
Guy Darmet

Produção:
Amora Produções Artísticas
Fábio Ramos

Direção Geral:
Baby Mesquita

Apoio Eterno:
João Baptista Mesquita

Trilha Sonora:
A Felicidade – Antônio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes
O Ronco da Cuíca – João Bosco
Sonhos – Peninha
Insensatez – Vinicius de Moraes e Tom Jobim
Meu Mundo Caiu – Maysa Matarazzo
Acontece – Cartola
Anatomia Sexual – Letícia Novaes e Lucas Vasconcellos
A Isca – Assucena Assucena
Você Não Vale Nada – Dorgival Dantas
Louco Desejo – Dona Onete
Volta – Johnny Hooker
Mon Amour, Meu Bem, Ma Femme – Cleide